Uma visita
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O vento passava sobre seus ralos pêlos da nuca, unido com o frio que pairava e a umidade de um dia que fora chuvoso, trazendo calafrios. Olhava frequentemente pela janela da sala, esperava algo. Decidiu que sua ânsia não melhorava sua aflição: resolveu tentar se acalmar. Afroxou a gravata, serviu-se de mais um copo de whiskey e recorreu ao seu melhor recurso de relaxamento: um cd de clássicos de jazz. Apesar desse esforço, seu coração acelerava cada vez que eu ouvia um carro passar.
Levantou subitamente quando três batidas fortes na porta o sequestraram de sua calma. Arrumou a gravata, revisou tudo o que tinha a dizer e a abriu.
Um homem alto, bem apresentado, com uma maleta o fitou e, percebendo o nervosismo de seu anfitrião, se perguntou quanto tempo fazia que ele esperava essa visita.
- Boa noite. Por favor, entre e se acomode. - Enquanto seu convidado entrava ele percebeu, antes de fechar a porta, que havia uma estrela muito brilhante, no plano celeste, ao lado da lua, embora nas dimensões espaciais muito distante. Fechou a porta e se dirigiu ao homem. - Deseja que eu pendure seu palitó?
- Não pretendo me demorar - falou grosseiramente o homem - De maneira que prefiro que partemos direto ao assunto: nossa empresa tem recebido inúmeras denúncias que alegam que o nosso soro é cancerígeno. Não há mais argumentos que nossos advogados possam usar, e estamos nos destinando à falência financeira. Você é o engenheiro responsável, deve responder por isso.
- Eu criei essa vacina - falou o anfitrião, aflito, claramente um texto decorado - Com 7 % de chances de erro. No entanto, não há nela, isótopo que agrave ou sensibilize o surgimento de cancêr. O que aconteceu é que a pós-produção tinha vários substâncias radioativas, e já não é meu departamento, tendo em vista que eu fui contra desde o começo esse tipo de fabricação.
O homem alto tinha um estranho bronzeado que, em outra ocasião, traria a dúvida se era natural ou não, ou se ele era de algum país perto do mar do Caribe. Olhou fixadamente o engenheiro, pensando no que dizer.
- Você está matando pessoas, e se reclusa em defesas judiciárias. Não quero uma desculpa, quero uma solução. - Seu tom tornava-se cada vez mais rude.
- Posso criar um anti-soro, mas vou precisar de algumas semanas, material e pessoal especializado.
- Não há mais recursos financeiros para tal, e não há mais laboratório: foi interditado pela polícia após tantos processos. - O caribenho perdera a paciência, e gritava - É impossível que você esteja tão desatualizado sobre a sua própria situação. Resolva isso, você tem 1 semana pra criar um anti-soro. Nesse tempo eu mesmo vou financiar sua pesquisa. Há um laboratório de bioengenharia neste endereço, no leste da cidade - e o apontou um papel filtro, com o endereço escrito à lápis, às pressas.
- Vou fazer o que eu puder... - ia se explicando o engenheiro, quando seu convidado bateu na mesa com o papel e se dirigui à porta.
- Você vai fazer o que TEM que fazer. - abriu a porta, e o guarda chuva - Uma semana! - E se retirou
O engenheiro viu-se abandonado com seus pensamentos, o som da chuva e a voz rasgada de Sarah Vaughan.
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